segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sobre o apego e as despedidas

Hoje em dia, na velocidade em que tudo naturalmente acontece, nós construimos e tendemos a construir cada vez menos apego com com as demais coisas que nos relacionamos (sim, falo de coisas, não de relações pessoais). Mas se pararmos pra pensar direitinho, vemos que, à medida que isso acontece, o valor do apego sofre uma reconfiguração, ou melhor, uma ressignificação. O mundo contemporâneo está aí para nos mostrar que hoje em dia as coisas e as relações são mais descartáveis, as coisas se tornam obsoletas mais rapidamente. Modificou-se os formatos de trabalho, criou-se novas profissões e houve, principalmente, o crescimento da instabilidade. Não saber onde morar tendo que se mudar daqui a duas semanas (muitas vezes pra outras cidades, outro país), mudar de casa três vezes em um só semestre ou até mesmo não pensar nem tão cedo em comprar um imóvel são exemplos bem clássicos desse cenário que muita gente por aí tem bastante identificação. Acontece que as pessoas não têm mais tanto tempo para se apegar, ou então se condicionam a se apegar de forma mais efêmera, pois sabem que determinada coisa ou determinado lugar vai deixar de ser seu em pouco tempo, e então passará a ser de outra pessoa que, por sua vez, irá construir outro tipo de apego. Surgindo assim um ciclo de apegos. Quantas coisas e lugares não já foram sentidas e vistas pelas demais pessoas de formas completamente diferentes... No fim das contas, vemos que o apego é inevitável, mesmo que seja pequeno, mesmo que dure pouco tempo. E isso por conta dos valores simbólicos que atribuimos as coisas e os lugares, sempre iremos relacionar coisas e lugares com acontecimentos da nossa vida.

Logo quando passou para o mestrado, minha irmã foi morar em Refice PE, no lindinho e confortável ap 504 em Boa Viagem, que já foi recepção de muitos acontecimentos importantes na vida de muitas pessoas, inclusive na minha. Ela terminou seu mestrado e passou para o dotourado. Agora está em seu segundo ano do doutorado e precisa se mudar, pra outro bairro, pra outra zona, da zona sul à zona norte. Desde quando soube dessa mudança ela anda meio desnorteada, sem saber como deixar aquela "vida" já construída naquele local, pois ali tem sim um pedaço dela, de Guga (seu noivo), de Glauco, Leonardo, Fred e até mesmo Breno, que dividiram o apartamento (em tempos diferentes, evidentemente) , da nossa família, dos amigos dela, de Pão (o cachorro) e Manteiga (o gato). Dos tantos carnavais, literalmente. Cada quina, cada canto de parede, cada mancha de maresia, ferrugem ou parede descascada faz lembrar o todo dia. Cada objeto em seu devido lugar, inerte, é capaz de proporcionar um mundo de emoções diferentes.

Vim aqui fazer uma pequena homenagem ao querido e inesquecível 504, que, logo em breve, deixará de ser "o nosso 504" para ser o apartamento de nº 504 de outro morador, que talvez o transforme no "ap 504" dele. E um viva ao transitório.


Logo em breve virá um novo apartamento cheio de amor pra dar e receber, que inclusive servirá para o café e cafofo como principal manequim para categorias como antes e depois e faça você mesmo, entre outras ;)
Aguardem novidades!

1 comentários:

Iomana Rocha disse...

sempre choro nesse blog, ai ai ai... um bj pra o 504 querido velho de guerra!

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